Passou-se um mês. Mais tempo de casa, mais tempo de sofá, de net, em telereuniões de teletrabalho. É muito para gerir.
Estamos entre o que conhecíamos e tínhamos por certo, e outra coisa qualquer. Estamos em transição. Transição digital, transição escolar, transição familiar, tudo o que nos levará à tal “nova normalidade”. De salientar ainda os teletreininhos de 30′ para evitar a transição para o número acima! Estarmos mais afastados uns dos outros. Estarmos (talvez) mais próximos de nós próprios. É muito para gerir.
Com tudo isto e mais o que nos espera, que falta pode fazer um coach neste momento?
Peritos nos mares da mudança
Não me vou repetir a elencar os benefícios identificados e investigados. Os Health & Wellness Coaches ajudam os clientes a criar estratégias altamente personalizadas para ultrapassar os seus desafios de saúde e de bem+estar como refere a Harvard Medical School.
Da minha perspetiva, as circunstâncias de hoje apelam mais que nunca, à função-core do coach – gerir a mudança. Qualquer que ela seja.
O coach é profissional da mudança. Sabe do que é feita e não se assusta com a incerteza de um processo ou de um momento. O coach entende o funcionamento da mudança e por isso adequa instrumentos a cada fase. Usa os seus skills para apoiar o cliente a recolher e observar os seus factos, a reconhecer os seus sentimentos, a identificar as suas capacidades e só então, só depois, agir.
“There are two central qualities in our experience of change: a sense of chaotic power beyond our control and a sense of never-ending adventure” (Hudson, 1999, p. 109).
Entre Capítulos e Transições
Existe o pressuposto de que apesar da mudança ser uma constante, nem toda a mudança é igual. Como sugere Kegan (1982), a mudança pode ser desencadeada por forças internas ou por surpresas externas e eventos de crise em nossas vidas. Quanto maior a surpresa, maior a oportunidade e o convite para o próprio desenvolvimento.
Neste raciocínio, Hudson (2012) indica dois grandes tipos de mudança – Capítulo e Transição. Aprofundarei este tema em breve, mas para já, importa diferenciar, ainda que em traços gerais, o seguinte:
Num “capítulo“, tudo parece estável, com oportunidades de crescimento e com desafios positivos no horizonte. A mudança parece ser um fluxo de recursos e oportunidades para cumprir o propósito da vida. Constitui a mudança intencional, escolhida pelo cliente, de Tipo 1.
Um processo de coaching num capítulo da vida é geralmente focado na criação de planos, na performance, na ação e na concretização. O ponto B está claro. Podemos aqui falar de decidir passar a treinar em confinamento e precisar do apoio de um profissional para organizar e planear os passos a dar em prol de determinado objetivo escolhido.
As “transições” constituem na sua maioria, as mudanças imprevistas, indesejadas ou impostas, de Tipo 2, como o são uma pandemia, um diagnóstico de doença, um desemprego, uma morte. Esta apresenta todo um conjunto de particularidades que colocam o cliente num clima de menor controlo e portanto (aparentemente) mais frágil. Aqui não há ponto B, e como tal, não há percurso evidente. Numa transição, o coach recolhe informações sobre a fase do cliente e com isso identifica um ritmo, uma profundidade e por vezes a duração do processo a levar a cabo.
Bons coaches devem ter em consideração que os adultos passam todos por estes dois padrões.
Bons coaches estão familiarizados com ciclos de mudança que se repetem várias vezes ao longo da vida.
Um Coach diferenciado navega confortavelmente em ambos os tipos de mudança, mesmo quando esta implica ausência de concreto, de chão.
Que falta faz um Coach em Saúde?
Começamos a assistir ao impacto físico, mental e social do confinamento. Solidão, abuso de alcool, de substâncias e/ou de comida são só algumas das problemáticas que se vão revelando. Agora mais que nunca, a Humanidade precisa de pessoas que apoiem genuinamente a transição de outras, que lhes permitam um espaço seguro para gerir o caos, olhar a sua vida de outra perspectiva até então desconhecida, e levar momento a momento.
Nos próximos meses, serão necessários (ainda) mais coaches para algumas situações como as que se seguem:
- trazer apoio na gestão do stress associado à instabilidade.
- trazer alívio ao desgaste provocado pelo confinamento às famílias e com isso procurar formas de ganhar novos equilíbrios .
- O distanciamento físico aumentará os casos de solidão. Os coaches podem criar ambientes de conexão, de escuta e de empatia, ainda que á distância.
- O sedentarismo e a falta de mobilidade dará origem a desafios de saúde, exigindo que os coaches em saúde apoiem seus clientes a criar o melhor plano para as suas circunstâncias.
Se sente este apelo, se sabe que pode contribuir e servir quem mais precisa, se pondera formar-se em Coaching para a Saúde prepare-se para navegar antes de mais na sua própria mudança.
Qualquer que seja a normalidade que se vai estabelecer daqui por diante, será resultado do que nos for possível construir, somado à nossa intenção de fazer diferente, para melhor.
Fontes:
The Completely Revised Handbook of Coaching A Developmental Approach.
Pamela McLean with Contributions by Frederic Hudson. Copyright © 2012 by John Wiley & Sons, Inc. All rights reserved
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Coaching em saúde e bem+estar é o WE-book que faz o enquadramento desta prática. (Descarrega gratuitamente)